O que esperar dos dividendos da Vale (VALE3) para o resto do ano?
A Vale (VALE3) distribuiu R$ 12,4 bilhões em proventos no primeiro semestre deste ano, figurando como a terceira maior pagadora de dividendos do período. O montante previsto para o restante do ano, no entanto, deve ser menor, segundo especialistas, por causa de uma série de fatores. Os principais são a queda do preço do minério de ferro, o imbróglio jurídico da barragem de Mariana (MG) e as recentes decisões estratégicas de alocação de capital.
A redução do preço da commodity, que atingiu a mínima de 14 meses na semana passada, foi causada principalmente pelo mercado imobiliário chinês, um grande importador do minério de ferro produzido pela companhia. Esse cenário prejudicou substancialmente a capacidade de geração de caixa da companhia, disse Matheus Falci, sócio da One Investimentos.
“Com uma variação anual negativa nos preços de finos (-0,3% a/a) e de pelotas (-2,0% a/a) de minério, e nos preços de níquel (-19,2% a/a), a companhia apresentou uma redução de 4,0% a/a em seu Ebitda, que acabou prejudicando tanto o seu fluxo de caixa, quanto a sua necessidade de capital de giro, fatores que acabam se tornando sinais de alerta para investidores que buscam o papel como alternativa para distribuição de dividendos”, observa.
Barragem de Mariana e dívida expandida
Outro fator que impacta o pagamento de dividendos é o processo sobre o rompimento da barragem de Mariana, ocorrido em 2015. Em junho, a companhia apresentou junto com as mineradoras BHP e Samarco uma proposta de R$ 140 bilhões para acordo de reparação pelo desastre. Enquanto aguarda o desfecho da história, a Vale pode ter adotado um comportamento cauteloso em relação à distribuição de proventos, disse a equipe de research do BTG Pactual em relatório publicado neste mês.
“A empresa provavelmente está adotando uma abordagem cautelosa em relação aos dividendos extraordinários, o que entendemos estar relacionado à falta de visibilidade nas negociações da Samarco e aos preços (pressionados) de minério de ferro. Nossa opinião é que os pagamentos extraordinários este ano dependerão em grande parte do resultado do acordo com a Samarco”.
Ainda segundo o BTG Pactual, outro ponto que pode afetar os proventos é o fato de a empresa continuar comprometida em manter sua dívida líquida expandida (indicador que mostra detalhes da saúde financeira) na faixa intermediária de sua meta de US$ 10 a 20 bilhões.
“No que diz respeito à alocação de capital, a administração permanece focada em atingir aproximadamente US$ 15 bilhões da sua dívida expandida, o que acreditamos proporcionar espaço limitado para pagamentos extraordinários de dividendos”, escreveram os analistas da corretora, sinalizando que mantêm uma recomendação neutra para ações da companhia até que os “riscos/desafios” sejam superados e haja uma “melhoria da situação macro chinesa e da indústria siderúrgica”.
Política sustentável
No final de julho, no mesmo dia em que divulgou o balanço, a Vale anunciou o pagamento de R$ 8,940 bilhões em juros sobre capital próprio (JCP), o equivalente a um dividend yield de 3,5% para o semestre. Para o ano, o dividend yield esperado é de 7% a 8%, segundo o BTG Pactual, inferior aos 12,35% dos últimos 12 meses. A política de remuneração aos acionistas da Vale determina uma distribuição mínima de 30% de seu lucro operacional.
Hugo Baeta, analista de renda variável da AF Invest, disse que, apesar do impacto da queda do minério de ferro e dos outros desafios, a Vale tem um balanço sólido e uma dívida baixa em relação à geração de caixa. Esse cenário, segundo o especialista, mostra que a estratégia de dividendos da companhia é equilibrada.
“A Vale tem uma política de distribuição de dividendos sustentável, um dos menores custos produção do mundo, tem um balanço muito sólido, tem pouca dívida e não tem projetos de expansão relevantes, que necessitem de investimentos relevantes, então toda a geração de caixa dela vai ser distribuída para o acionista em torno de dividendos e recompra de ações”.
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