Empresas da Bolsa no Brasil, em alguns casos, têm qualidade temporária, diz gestor
Marcelo Ornelas, sócio-fundador da Kínitro, relembra a trajetória da Cielo, que por muitos anos foi vista como um “porto seguro” na renda variável, uma verdadeira “queridinha” do mercado. “Quando o oligopólio da Cielo foi quebrado, ficou evidente que a empresa enfrentaria dificuldades. Aqueles que mantiveram seus investimentos até 2015, 2016, sofreram grandes perdas de capital”, destaca Ornelas.
Para o gestor, esse é um dos desafios de investir no Brasil, onde mudanças setoriais geram incertezas sobre o desempenho das empresas.
“Em nosso país, a qualidade das empresas é temporária”
“Com as mudanças estruturais, essa qualidade se dissipa, resultando em perdas de capital. Nosso trabalho é identificar esses riscos. O que nos tira o sono são essas incertezas”, conclui.
Marcelo Ornelas participou do episódio 263 do programa Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo e Henrique Esteter.
Carta na eleição de Lula
Ornelas lembra que a Kínitro chegou a escrever uma carta aos seus investidores sobre o setor de varejo, quando Lula estava para ganhar a eleição de 2022 e havia uma euforia com o segmento.
“Estávamos muito céticos. Esse microsetorial mudou. E foi um horror para a maioria das empresas. A gente pegou as 20 principais varejistas da bolsa de 2019 em diante e a margem operacional havia caído substancialmente”, relata.
“Case” Renner
“A Renner (LREN3) é a mais emblemática. Ela foi duplamente disruptada (causar rompimento no mercado). Primeiro, porque o setor dela, na parte física, tinha parado de crescer. Ela estava em todos os shoppings do país, surfou o boom de shoppings, e também nos melhores pontos de rua, com concorrência com jogo fácil”, recorda.
Mas, segundo o gestor, quando ela foi para o online, entrou numa disputa de preço e aí cresceu menos com menor rentabilidade.
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“A Renner também dava crédito lá atrás quando o cartão de crédito e fintechs não existiam tanto. Então, ela conseguiu também criar uma carteira de crédito. Ela começou a abrir o crédito não só para comprar dentro (nas lojas) como fora”, conta.
“Ela foi disruptada no crédito, foi disruptada no varejo porque saiu do físico para o online e começou a ter problemas. Vários setores da bolsa têm essa característica”, pontua.
“De 5 anos para cá o período foi desafiador para maioria dos setores das empresas de capital aberto. Tivemos transformações estruturais. O Brasil é campeão de transformações microsetoriais e que acabam incorrendo em perda de capital”, afirma.
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