Em 7 pontos, entenda o que levou o Ibovespa à máxima histórica – e o que esperar
O Ibovespa rompeu sua máxima histórica nesta quinta-feira (15) com o pregão aberto, ao bater os 134.574 pontos, por volta das 12h20 – superando, assim, os 134.392 pontos atingidos no final de 2023.
Na reta final do pregão, a bolsa passou por um leve processo de realização e sobe 0,58%, aos 134.089 pontos, as 15h55.
Assim, agora, o próximo patamar de recorde que a bolsa deve buscar é o de fechamento, cujo maior até hoje foi aos 134.193 pontos, em 27 de dezembro do ano passado.
Para entender porque a bolsa chegou nesse patamar e o que esperar para agora em diante, o InfoMoney detalha sete aspectos cruciais para que os investidores melhor se posicionem neste momento.
Fluxo estrangeiro e bancos
Um dos principais motores da recente alta do Ibovespa foi a contribuição significativa dos bancos e o aumento no fluxo de capital estrangeiro. Segundo Victor Furtado, Head de alocação na W1 Capital, as altas recentes não estão sendo puxadas por Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), as empresas mais pesadas do índice.
“Temos os bancos com grande contribuição para alta do Ibovespa, bons resultados corporativos e o crescimento fluxo estrangeiro como catalisadores”, disse. Em agosto, até agora, o ingresso de dinheiro gringo somou R$ 3,2 bilhões – revertendo as grandes saídas que vinham ocorrendo até o meio do ano.
Lucros e crescimento das empresas
Mesmo sem a perspectiva de corte na Selic em 2024, as projeções de lucros para os próximos 12 meses das empresas listadas têm sido revisadas para cima, fortalecendo a confiança dos investidores. Segundo Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, isso demonstra a resiliência do mercado mesmo diante de um cenário macroeconômico ainda desafiador.
Além disso, setores tradicionalmente prejudicados pela alta da Selic, como construtoras, consumo e varejo, ainda têm espaço para crescimento, como aponta Paulo Abreu, sócio e gestor da Mantaro Capital. Isso porque a perspectiva, sobretudo para o ano que vem é de juros mais alta, com emprego e renda em evolução – fatores macro que puxam a valorização das ações desses setores.
Há também o reflexo da recente safra de resultados do segundo trimestre, que foi marcada por desempenhos robustos das empresas, contribuindo para a alta do Ibovespa. Assim, aponta analistas, as companhias seguem entregando resultados sólidos, mesmo diante de um cenário macroeconômico desafiador, reforçando a força dos setores financeiros e de consumo.
“Bolsa barata”
Mesmo com o recorde histórico, em termos de análise fundamentalista, a Bolsa brasileira continua sendo considerada “barata”, com múltiplos de valuation abaixo das médias históricas.
“O indicador fundamentalista P/L está na faixa de 9,7 vezes, ante uma média histórica de 14,6 vezes, dos últimos dez anos”, explica Victor Bueno, analista da Nord Investimentos. Isso sugere que ainda há espaço para uma valorização adicional dos ativos.
Corte de juros nos EUA
A Bolsa e as ações brasileiras vem sendo beneficiadas também pelo iminente início de processo de corte dos juros nos EUA, que ainda não está totalmente precificado. Alan Martins, analista da Nova Futura Investimentos, comenta que “nem o corte de 25 pontos-base está totalmente precificado”, indicando que um movimento de fuga de capital dos EUA poderia trazer ainda mais fluxo para o Brasil.
Blue Chips
Chama atenção neste rali da bolsa ainda o fraco desempenho de Vale (VALE3) e de Petrobras (PETR4), que muitas vezes puxam a valorização do Ibovespa, diante do seu peso relativo no índice e forte correlação com o mercado internacional.
Ou seja, uma recuperação da ação destas empresas pode impulsionar o Ibovespa a novos recordes de pontos. No ano, por exemplo, a Vale recua 21% e, em agosto, cai quase 6%. Neste mês, Petrobras sobe 3%, abaixo do desempenho do Ibovespa.
“A Vale está abaixo dos R$ 60, o que dificilmente vemos, e Petrobras também segue barata”, afirma Furtado, reforçando que, assim que essas cotações subirem, o índice pode atingir os 140 mil pontos.
Rompimento de resistência
Tecnicamente, o patamar de 130 mil pontos era visto como um divisor de águas para o Ibovespa. E agora a Bolsa já supera esse ponto e testa nova resistência nos 134 mil pontos.
Marcos Duarte, analista da Nova Futura Investimentos, explica que “os 130 mil eram um ‘divisor de águas’ para o investidor de curto a médio prazo, já que agora o índice tem como alvo os 134 mil pontos e depois os 138 mil pontos”.
Questão fiscal
Por fim, ainda que pairem muitos questionamentos por parte do mercado em relação ao ajuste das contas públicas, o governo vem tentando fazer sinalizações positivas em relação ao equilíbrio das contas públicas.
Nesse sentido, especialistas alertam que a sustentabilidade dessa alta do Ibovespa depende de uma melhora na percepção de risco fiscal no Brasil.
Victor Bueno, da Nord Investimentos, ressalta que “não é preciso resolver todos os problemas fiscais do Brasil, mas sinalizações de corte de gastos já seriam suficientes para destravar valor na Bolsa”.