Para economistas, Fomc suaviza leitura, mas acerta ao deixar opções em aberto
Ao anunciar mais uma manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos, o Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) optou por um comunicado sem uma suavidade excessiva, que pudesse apontar a iminência de um corte de juros na próxima reunião, em setembro. Mas reconheceu o progresso da tendência de inflação em direção à meta. Para os economistas, o cuidado foi de deixar as opções em aberto.
Essa estratégia de comunicação gerou interpretações variadas pelos especialistas. Francisco Nobre, economista da XP, por exemplo, afirmou que a declaração foi até mais agressiva do que o esperado.
“Sobre a perspectiva econômica, as mudanças na declaração estavam muito alinhadas com nossa suposição, pois sinalizavam progresso na redução da inflação e riscos para o mandato duplo se tornar mais equilibrado – preços e emprego”, comentou.
No entanto, ao contrário das expectativas, Nobre destacou que o Fomc não fez alterações na parte mais importante do comunicado, exatamente aquela que se refere ao momento dos cortes nas taxas. A frase continuou: “[O] Comitê não espera que seja apropriado reduzir a meta até que tenha ganhado maior confiança”. O economista da XP disse esperar alguma moderação nesse trecho.
“Isso não significa que as portas estão fechadas para cortes nas taxas, embora sugira uma postura mais cautelosa do Fomc. Também reforça a abordagem dependente de dados e reunião por reunião. (…) Achamos que setembro ainda não é um acordo fechado, embora apenas dados agressivos possam evitar que isso aconteça. Enquanto isso, o caminho de flexibilização à frente permanece incerto”, afirmou.
Cautela mantida
Para Gustavo Sung, economista chefe Suno Research, o Fomc manteve novamente, de maneira acertada, a postura de cautela e de aguardar novos dados da economia para a tomada de futuras decisões.
Sobre o comunicado, ele destacou que o Comitê citou que os ganhos de emprego registraram moderação e que a taxa de desemprego subiu, embora permaneça baixa. “O Comitê alterou essa frase em relação ao comunicado anterior, enfatizando o recente arrefecimento dos dados”, disse Sung, acrescentado como relevante o comentário sobre a inflação ter desacelerado, embora siga um pouco elevada.
“A boa notícia é que os últimos dados de atividade econômica, do mercado de trabalho e da inflação começam a dar sinais de arrefecimento. Estimamos um pouso suave até o final do ano, não uma recessão. Este é um cenário positivo para o Fed, mas ainda não o suficiente para iniciar o ciclo de cortes de juros”, ponderou.
A perspectiva da Suno é que, se os dados continuarem na atual trajetória positiva, haverá uma mudança de comunicação na reunião de setembro, com uma possível sinalização de um afrouxamento monetário no quarto trimestre do ano.
Para Danilo Igliori, economista chefe da Nomad, houve uma sinalização de que o primeiro corte pode estar próximo, com o Fomc mencionando de forma mais explícita progressos recentes com relação à inflação e atividade.
“A interpretação natural é de que o Fomc chancelou a expectativa de que existem boas chances de o próximo ciclo de afrouxamento monetário ter início na reunião de setembro”, argumentou.
Powell mais incisivo
Nicolas Borsoi, economista chefe da Nova Futura Investimentos, disse que, apesar de não ser um comunicado exatamente “dovish”, houve vários pontos de alívio na comunicação do Fed.
Ele destacou que foi usada a expressão “moderada” para caracterizar a criação de empregos, ante o uso da palavra “forte” anteriormente. Em outro trecho, foi citado “algum” progresso em direção à meta de inflação, substituindo o “modesto” usado antes. “Diria que não tem sinais de queda de juros em setembro nesse comunicado, ou seja, vai precisar de dados de inflação muito benignos à frente.”
Sobre a coletiva de imprensa do presidente do Fed, Borsoi afirmou que fazia muito tempo que não se via o [Jerome] Powell tão incisivo sobre o próximo movimento das Fed Funds. “Apesar do comunicado neutro, o tom da coletiva foi muito ‘dovish’, pavimentando o início dos cortes de juros na próxima reunião”, disse o economista.
“Mesmo a pergunta sobre um corte de 0,50% não foi negada de forma veemente. Powell só afirmou que ‘não é algo que estamos considerando agora’. Além disso, na pergunta sobre uma possível discussão de corte de juros hoje, Powell não negou, apenas respondeu que ‘a manutenção de juros foi unânime’”.
O economista da Nova Futura disse que mantém o cenário de dois cortes de juros em 2024, um em setembro e outro em dezembro, mas acredita que o mercado vai flertar com a precificação de três cortes este ano, ou seja, ou um ciclo mais agressivo. “Principalmente se o payroll de sexta e os dados de inflação continuarem na dinâmica recente.”
Para ele, o Copom deve dar uma respirada neste momento, apesar da tarefa de convencer o mercado com um tom “hawkish”, sem mostrar uma alta de juros no horizonte, ser bastante difícil. “O Fomc deu uma reduzida na barra.”